quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

PRIMEIROS PASSOS

Ele se apoia na parede e, lentamente, se põe de pé. Fica na mesma posição por alguns segundos. Talvez, acostumando os pés e as pernas a essa nova posição [a que ele ficará grande parte da sua vida]. Arrisca o primeiro passo. Devagar. Primeiro passo vencido. Segundo passo. Terá que se afastar da parede e parece ponderar isso. Pé ante pé, ele consegue dar seus primeiros passos. Ops! Caiu!
Olha para os lados, um pouco desconcertado, mas como não tem ninguém por perto olhando, não adianta chorar. Então, é levantar novamente.
Observa seus pés, como que querendo entendê-los. Tenta, a sua maneira, dialogar com seus pés. Quer ter a certeza que eles lhes sustentarão [mal sabe ele que, será dependente de seus pés a partir do momento que conquistar os primeiros passos]. Os pés – também a sua maneira – indicam que estão com ele para o que der e vier.
Procura o apóio mais próximo para se reerguer. Os pés protestam, dizem que ele já não precisa disso. Basta querer levantar, afinal, é pra isso que eles servem. Com algum esforço, se levanta.
Um pé à frente, depois outro, outro e mais outro. A excitação é inevitável! Olha para baixo, e os pés se mostram satisfeitos, sabem que o estão impressionando. É um feito fantástico se locomover nesta nova posição: Em pé!
Sem muito jeito, olha para o lado e vê seus brinquedos. Devagar, muda de direção [é realmente fantástico poder ir para aonde quiser!]. Pé ante pé vai até os brinquedos. Porém, percebeu que os brinquedos estavam muito próximos. Não, ele sente que, com sua curiosidade – e seus pés –, pode explorar outros lugares. Pode ir mais longe.
Pronto, foi selado um pacto entre eles.

Ele irá conhecer a casa e, em breve, o mundo. Pé ante pé.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

causo.

Verso meu que entreguei para o primeiro transeunte que derrubou meus livros no chão. Sujou de lama e não limpei. Só derramei mais lágrimas por ninguém. Então morri de medo de minhas mãos e não saí de casa por dez anos. Agora estou bem aqui, ao lado de um comprador de órgãos e venderei meu cérebro a fim de não-mais-pensar-em-nada.


- Nos vemos na próxima sexta?

- Claro.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

E eu não fico sozinho

Se eu fosse um pássaro, procuraria não voar horas inteiras pelo firmamento, só as precisas, porque eu gostaria mais de ficar na tranqüilidade do meu ninho pra escutar o que você diz através do vento que passa pela folhagem.

Se eu fosse um cantor, procuraria não cantar pra você frente à platéia noite pós noite, só as precisas, porque eu gostaria mais de ficar na minha casa e calar, solfejar os tons e calar, e só lhe cantar, sentado no chão, as canções que você fez pra mim.

Se eu fosse uma criança, procuraria não ir pela rua todas as semanas brincando com as outras crianças, só as precisas, porque eu gostaria mais de ir sozinho procurando os insetos de ninguém, para lhes encontrar e abraçar como você fez comigo.

Se eu fosse você e você fosse eu, lhe ensinaria a fazer seu ninho, lhe ensinaria a cantar-me e lhe ensinaria a procurar e abraçar, como você fez comigo.

Mas, se eu fosse eu, e você, você, eu não seria um pássaro, nem um cantor, nem uma criança; então não haveria ninho, nem canções, nem ruas, só as precisas, porque você é você e eu sou eu...

mas contigo.



Luis Eduardo Ôrtibu
Guadalajara - México

sábado, 9 de fevereiro de 2008

CHUVA

Lá fora chove. E aqui dentro, eu choro.
A chuva lava a janela do meu quarto.
As lágrimas lavam as janelas da minh’alma.
A chuva me acompanha no meu choro.
Eu choro. Ela chove.
O céu chora um choro cristalino.
Meus olhos chovem uma chuva amargurada.
Lá fora é choro. E eu... sou chuva.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

FEVEREIROS

(“Alalá ôôôôô! Alalá ôôôôô...”)

Estamos em fevereiro, e os ânimos de (quase) todos estão a mil! Não se fala em outra coisa a não ser, CARNAVAL.

Pois é. Toda conversa, seja na escola, trabalho, bar, universidade, casa, igreja (isso mesmo, até nas igrejas!), gira em torno do carnaval. Lugar algum escapa desse assunto.

As perguntas mais freqüentes são: “Vai passar carnaval onde?”; “ E aí, onde vai ser o carnaval mais ‘irado’?”; “Ei ‘rapá’, carnaval na praia ou na serra?”.

E os comentários após o carnaval são praticamente os mesmos: “Bebi todas!”; “Fiquei com um monte de gatas (os)!”; “Bebi tanto que desmaiei!”; “Rapá, ‘peguei’ todas que pude!”; “Tive que tomar glicose na veia!”.
É que existe a idéia que tudo é possível no carnaval. Tudo mesmo!! Há uma inversão na “ordem” das coisas. Claro que isso pode ser compreendido, afinal, a primeira inversão é a hierárquica. No carnaval do Rio, por exemplo, quem se torna Mestre-Sala, Porta Bandeira, Rainha de Bateria ou outro maior destaque nas escolas de samba, são – geralmente – os moradores da favela, ou seja, os pobres. E os ricos ficam apenas assistindo o grande espetáculo montado pelos pobres. Inversão maior do que essa é impossível!

Algumas pessoas “se oprimem” o ano todo só esperando ansiosamente pelo carnaval para “se libertar”. E como se libertam! Libertam seus instintos mais selvagens (e libidinosos!). Homem sai pelas ruas vestido de mulher, mulher anda seminua, as pessoas sentem-se a vontade em dormir nas ruas (ou fazer TODAS as suas necessidades nela!). Beber até cair, é algo merecedor de troféu! Pessoas que geralmente mal abrem a boca para desejar um “bom dia” de tão tímidas que são, nesta época, se tornam em algumas situações as mais populares da festa, pois abraçam, beijam e sorriem para todo mundo.
E tudo que se faz, depois é justificado com a célebre frase: “Ah, é carnaval!”. Pronto, só isso já explica tudo.

Você pode me ignorar, afinal, a vida é sua e ninguém melhor do que você para saber o que lhe faz feliz, portanto, beba, fume, cheire, dance e namore em pé (mas não esqueça a camisinha!).
Mas que tal se propor algo diferente neste carnaval?! Um retiro espiritual ou pelo menos segurar – um pouco – a onda.
Lembre-se, são quatro dias para se libertar, mas o resto do ano (ou da vida!) para se arrepender.


Um Feliz Carnaval!